O luto.

25/09/2024

Quero que minha Sommerboleta Nova seja – um símbolo de conforto e transformação 🦋

Na natureza, poucas jornadas são tão fascinantes quanto a transformação de uma lagarta em borboleta. A lagarta rasteja pela vida, absorvendo tudo o que pode, até que se recolhe em um casulo e passa por uma transformação profunda. Então, um dia, rompe a estrutura que a abrigava e emerge como uma borboleta – livre, forte e bela. Esse processo reflete a própria vida, especialmente aqueles períodos em que enfrentamos desafios que parecem pesados demais para carregar.

Minha Sommerboleta Nova se inspira nessa jornada natural. Ela representa não apenas a transformação, mas também o conforto que encontramos ao longo do caminho. Quando a vida nos impõe perdas, tristezas ou dificuldades, muitas vezes sentimos a necessidade de nos recolher, assim como a lagarta. Nos afastamos do mundo, talvez para encontrar uma nova força dentro de nós mesmos.

Mas é nesses momentos de recolhimento que o conforto pode ser mais significativo – o conforto vindo dos outros, mas também aquele que encontramos em nós mesmos. A lagarta não sabe que um dia será borboleta, mas confia no processo. Da mesma forma, precisamos aprender a confiar que, mesmo nos momentos mais escuros, há uma oportunidade de crescimento e transformação.

A Sommerboleta Nova nos lembra que a vida é feita de jornadas – nem todas são visíveis ou lineares. Às vezes, passamos por fases que parecem intermináveis, mas, no final, rompemos a casca e encontramos um novo lugar no mundo. Experimentamos a alegria, a leveza e uma nova compreensão de quem realmente somos, assim como a borboleta que finalmente alça voo.

Acolhendo a dor, respeitando o tempo

Essa simbologia também reflete a forma como podemos estar presentes para os outros. Nem sempre podemos resolver os problemas de alguém, mas podemos oferecer conforto e perguntar as coisas certas. Às vezes, um simples "Como você está, de verdade?" é um convite para que alguém se abra e compartilhe suas dores. É um lembrete de que ninguém precisa atravessar momentos difíceis sozinho.

Minha relação com o luto começou cedo. Aos sete anos, perdi minha irmãzinha em um acidente de afogamento durante uma festa popular. Eu ainda me lembro de tudo daquela noite – e sei que, um dia, compartilharei mais sobre isso aqui no blog, quando nos conhecermos melhor. Desde então, o luto tem sido um companheiro constante. Perdi três tios, todos os meus quatro avós, meu pai, duas primas e o pai dos meus filhos (meu ex-marido). Também perdi duas senhoras idosas que eram tias do meu ex-marido e se tornaram como tias para mim, além de um tio e a avó paterna dos meus filhos.

E agora, 26 de setembro de 2024, às 08h40, minha prima, minha alma gêmea da juventude, está em coma há mais de 14 dias. Estamos apenas aguardando a notícia inevitável. Vou escrever mais sobre o luto com o tempo, mas hoje meu sistema emocional está reagindo – e sinto que estou me encolhendo no meu casulo novamente.

Uma das formas que encontro para lidar com a dor é lembrar que tudo na vida é um processo. Gripes, inflamações, tratamentos contra o câncer – tudo passa por fases. O mesmo acontece com o aprendizado: andar, pedalar, dirigir – e também aprender a lidar com a perda.

O luto como processo e experiência solitária

O luto é profundamente pessoal, mas também é universal. Nenhuma dor é igual à outra, mas a sensação de perda é algo com que todos podemos nos identificar. Às vezes, encontrar palavras para expressar essa dor parece impossível, mas compartilhar experiências pode trazer alívio – saber que não estamos sozinhos.

No entanto, vivemos em uma sociedade que nos pressiona a "superar" o luto rapidamente. Isso pode tornar a experiência ainda mais solitária. Para mim, o luto é como uma onda – há dias tranquilos e dias em que ele me engole. A dor muda de forma, mas nunca desaparece completamente.

Eu também acredito que precisamos aprender a aceitar a presença do luto em nossas vidas. Ele nos lembra o quanto os laços humanos são valiosos, o quanto nos conectamos profundamente às pessoas. Talvez o luto também sirva para nos fazer olhar para dentro e refletir sobre o que realmente importa.

Luto no Brasil vs. Luto na Noruega

Viver o luto no Brasil e na Noruega foram experiências completamente diferentes para mim. No Brasil, nunca me senti sozinha na dor. A família, os amigos e a comunidade estavam ali, de forma natural, como parte de um sistema social que acolhe. Aqui na Noruega, é diferente. Parece que o luto se torna uma experiência isolada. Muitas pessoas que nunca enfrentaram perdas profundas não conseguem compreender a dor, enquanto aquelas que já passaram por isso frequentemente tentam corrigir o que estou sentindo – como se a tristeza precisasse ser tratada ou desaparecesse rapidamente.

Isso me fez guardar muitos sentimentos para mim mesma. Não quero que alguém tente "consertar" minha dor ou me diga como devo vivê-la. Preciso atravessar esse processo do meu jeito, no meu próprio tempo – como já fiz tantas outras vezes. Para mim, é essencial ser dona do meu luto, vivê-lo sem pressões externas.

A sabedoria dos mais velhos e a importância da presença

Mesmo tendo desistido do curso de enfermagem, minha paixão por psicologia e filosofia sempre esteve presente. Adoro conversar com pessoas mais velhas – e aprendi muito sobre a vida através dessas conversas. Com o tempo, percebi que minha melhor estratégia para enfrentar a dor é ouvir meu corpo e esperar que a paz volte aos poucos.

Da próxima vez que você encontrar alguém em luto, tente perguntar:
"Como você está? Como essa perda mudou sua vida?"

E o mais importante: escute. Apenas escute.
Sem julgamentos, sem pressa para dar respostas ou soluções. A dor leva tempo, e, embora pareça infinita, ela se transforma. Eu sei disso. 🦋

(Agora, às 18h56, horário da Noruega, recebi a notícia brutal: minha prima Dila não está mais entre nós.) 💔