Entre Emoções e Conceitos: 20 Anos de Cultura na Noruega

🦋🦜🇧🇷💭 No Brasil, existe um sentimento para tudo; na Noruega, um conceito para tudo. 🦋🫎
Para aqueles que vêm de diferentes culturas e para aqueles que trabalham nos setores de saúde, assistência social e educação – este texto é para vocês.
Ao longo dos meus 20 anos na Noruega, tenho refletido sobre como diferentes culturas lidam com emoções e linguagem. Nós, que temos origens multiculturais, frequentemente nos deparamos com o que aqui na Noruega se chama de "o elefante na sala", no brasil podemos dizer que sentimos "um klima" – a barreira invisível que surge quando os sentimentos não são reconhecidos ou expressos livremente. Isso se torna especialmente evidente ao interagirmos com as estruturas formais dos serviços de saúde, das escolas e dos serviços sociais.
📌 Meu objetivo com este texto é abrir espaço para uma conversa sobre como nós, que viemos de outras culturas, podemos ter o direito de sentir – e como essa abertura emocional pode ser uma riqueza, não apenas para nós, mas também para a sociedade norueguesa. Ao nomearmos esses "elefantes", espero que possamos construir pontes entre culturas e inspirar uma maior liberdade emocional. Talvez possamos até contagiar a Noruega com um pouco da nossa espontaneidade emocional, criando um entendimento mais profundo e rico entre todos nós.
💭 Quando penso nos meus anos no Brasil, lembro que vivíamos através das emoções. Tudo carregava uma carga emocional, desde as conversas do dia a dia até os grandes acontecimentos. Era como se cada experiência tivesse um significado profundo, sempre expresso através dos sentimentos. Choramos juntos, rimos juntos e sentimos uns pelos outros de uma forma que cria laços fortes. Há sempre uma emoção conectada ao que vivemos, e não temos medo de demonstrá-la. 💕🫎
🌿 Já na Noruega, aprendi que há um conceito para tudo. Os noruegueses adoram estrutura e definições. Cada experiência, cada situação, tem um nome específico, uma palavra que descreve, mas nem sempre carrega consigo o sentimento. Isso também tem sua beleza – a capacidade de nomear as coisas, de explicar racionalmente o que se está vivendo, sem necessariamente demonstrar a emoção envolvida. Enquanto um brasileiro chamaria um sentimento de "saudade", aquela nostalgia carregada de emoção que só existe na língua portuguesa, um norueguês talvez usasse um termo mais técnico, explicando a sensação sem senti-la completamente.
🚀 Essa não é uma crítica, mas uma observação sobre como diferentes culturas percebem o mundo ao redor. Brasileiros abraçam as emoções, deixam-nas fluir por tudo o que fazem. Noruegueses encontram segurança em poder nomear as experiências, dando-lhes um formato compreensível. É como se os brasileiros sentissem antes de pensar, enquanto os noruegueses pensam antes de sentir.
🔎 Mas onde está o equilíbrio entre sentir e entender? Será que tudo precisa ser nomeado para existir? Ou será que o próprio sentimento já é suficiente? No Brasil, onde os sentimentos são o motor de muitas interações, palavras às vezes são desnecessárias. Na Noruega, onde termos e conceitos estruturam a realidade, as emoções podem parecer uma presença imprevisível.
🌎 Acredito que há espaço para ambas as abordagens. Talvez nós, que transitamos entre duas culturas, possamos aprender a equilibrar o melhor dos dois mundos: sentir profundamente e, ao mesmo tempo, encontrar as palavras certas para que os outros possam nos compreender. Nesta dualidade, podemos criar um mundo onde tanto os sentimentos quanto os conceitos brilhem juntos.
🛑 O desafio de expressar sentimentos em uma cultura baseada em conceitos
Até que um brasileiro entenda completamente como os conceitos funcionam na Noruega, expressar emoções pode ser interpretado de formas inesperadas. As emoções que demonstramos – desde alegria até frustração – podem ser vistas como fraqueza, instabilidade emocional ou até falta de autocontrole. Em um país onde segurar as emoções é a norma, expressá-las pode parecer "exagerado". O mais perigoso de tudo é quando nossa forma expressiva é mal interpretada como manipulação ou um jogo de poder.
Essa é uma grande barreira para nós, que estamos acostumados a viver intensamente as emoções. E exige uma grande adaptação para evitar sermos percebidos como invasivos ou inapropriados dentro da cultura norueguesa.
🌿 O desafio da adaptação sem perder a identidade
Minha jornada na Noruega também foi sobre aprender a dar um toque brasileiro às coisas sem chocar meus amigos noruegueses. Muitas vezes ouvi frases como:
🔹 "Aqui na Noruega, fazemos assim."
🔹 "Aqui na Noruega, educamos nossos filhos desse jeito."
🔹 "Aqui na Noruega, usamos..."
📍 A lista de expressões que começam com "Aqui na Noruega..." é longa, e frequentemente pode soar como afirmações preconceituosas. Mas, ao longo dos anos, aprendi a respeitar esses pontos de vista sem permitir que minha identidade fosse "reeducada" por eles. Encontrei formas de me posicionar e defender minha perspectiva, mesmo ao lidar com as estruturas do sistema.
📖 Tenho uma amiga norueguesa, que também trabalha com cultura, e aprendo muito com ela. Antes de reuniões importantes, eu costumava ligar para ela e pedir os termos técnicos certos para conseguir resolver desafios pequenos e grandes. Descobri que, na Noruega, se você não consegue dizer o conceito certo, no momento certo, não vai muito longe. Aprender os conceitos foi essencial para que eu pudesse sentir que dominava a minha vida aqui.
💡 Construindo pontes entre sentimentos e conceitos
Espero que eu tenha conseguido transmitir essa diferença cultural no aspecto emocional e que o que compartilho aqui faça sentido para vocês. Quero inspirar uma maior consciência sobre como lidamos com diferentes culturas. A mudança começa com a conscientização. Agora que você está consciente, você está comigo? 💛✨
Lembrem-se, pessoal, que um begrep pode te salvar, mesmo que você ainda não domine totalmente o idioma! 😉💡🇳🇴
🤝 Juntos, podemos construir pontes entre emoções e conceitos, tornando mais fácil para todos se sentirem vistos e compreendidos. 💕❤️